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quinta-feira, 9 de setembro de 2010

HISTORINHA




O IDIOTA E A MOEDA





Conta-se que numa cidade do interior um grupo de pessoas se divertia com o idiota da aldeia. Um pobre coitado, de pouca inteligência, vivia de pequenos biscates e esmolas. Diariamente eles chamavam o idiota ao bar onde se reuniam e ofereciam a ele a escolha entre duas moedas: uma grande de 400 REIS e outra menor de 2.000 REIS. Ele sempre escolhia a maior e menos valiosa, o que era motivo de risos para todos. Certo dia, um dos membros do grupo chamou-o e lhe perguntou se ainda não havia percebido que a moeda maior valia menos. Eu sei, respondeu o tolo. 'Ela vale cinco vezes menos, mas no dia que eu escolher a outra, a brincadeira acaba e não vou mais ganhar minha moeda'.
Podem-se tirar várias conclusões dessa pequena narrativa:
A primeira: Quem parece idiota, nem sempre é.
A segunda: Quais eram os verdadeiros idiotas da história?
A terceira: Se você for ganancioso, acaba estragando sua fonte de renda.
Mas a conclusão mais interessante é: A percepção de que podemos estar bem, mesmo quando os outros não têm uma boa opinião a nosso respeito.
Portanto, o que importa não é o que pensam de nós, mas sim, quem realmente somos.
O maior prazer de um homem inteligente é bancar o idiota diante de um idiota que banca o inteligente.


Arnaldo Jabor
O Paradoxo do Nosso Tempo

George Carlin



Nós gastamos sem critérios, dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e rezamos raramente. Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores.
Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos freqüentemente. Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos. Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.
Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores. Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos. Aprendemos a nos apressar e não, a esperar. Construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos menos. Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.
Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados. Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas 'mágicas'. Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na despensa. Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'.
Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão por aqui para sempre. Lembre-se dar um abraço carinhoso num amigo, pois não lhe custa um centavo sequer. Lembre-se de dizer 'eu te amo' à sua companheira (o) e às pessoas que ama, mas, em primeiro lugar, ame... Ame muito.
Um beijo e um abraço curam a dor, quando vêm de lá de dentro. O segredo da vida não é ter tudo que você quer, mas AMAR tudo que você tem!
Por isso, valorize o que você tem e as pessoas que estão ao seu lado.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

5 Excelentes razões para você não deixar de ir à Bienal do Livro de São Paulo

1 – Livros. Muitos livros:
Pode parecer óbvio, mas como não enumerar esta razão essencial de ir à Bienal do Livro de São Paulo? Serão milhares em exposição, vindos dos mais de 350 expositores de uma soma que ultrapassa 900 selos editoriais. Ou seja, não importa a sua idade, sua tribo, gênero ou credo, pois haverá sempre um livro que lhe interesse, seja com páginas cheias de adrenalina da literatura fantástica, das fofuras que são os personagens de Maurício de Souza – destaque na Bienal – ou aquela coleção de Direito Tributário indispensável na universidade.
2 – Lançamentos:
Quem não gosta de ficar frente a frente com o autor? Olhar nos seus olhos e tentar desvendar de onde vem tanta criatividade? Tanta sabedoria? E a sensação de ter em seu livro a assinatura de quem o escreveu. E na Bienal do Livro de São Paulo serão diversas possibilidades de leitores e escritores estarem frente a frente em virtude da grande quantidade de lançamentos no evento, desde livros acadêmicos a grandes novidades da literatura nacional.
3 – Viajar pelos livros:
Para o público infantil a Bienal e o Instituto Pró-livro preparam uma série de atividades para inserirem as crianças na leitura com o segmento temático “O livro é uma viagem”, dedicado a promover a leitura desde cedo. Se você é criança, não se esqueça de lembrar seu pai de levá-lo para esta viagem. Se você já é papai, o recado está dado. Mas se você não é nenhum dos dois, arrume um primo, um sobrinho, o irmão mais novo e conheça este espaço fantástico.
4 – O Palco Literário:
Não dá para perder personalidades famosas interpretando leituras da literatura nacional. E o melhor, o público, como na web 2.0, poderá participar em um bate-papo com os convidados. Nomes como Zeca Camargo, Bianca Rinaldi, Nívea Stelmann e Regina Duarte, e os atores Ary Fontoura, Carmo Dalla Vecchia, Paulo Goulart, Sérgio Marone e Wagner Santisteba estão confirmados. A quais deles vocês irão assistir?
5 – Interatividade:
Mais do que um espaço sobre e para livros, a Bienal é um espaço de interação. Uma verdadeira Babel das mais variadas correntes, etnias e gostos. Com espaços lúdicos e interativos onde você poderá interagir com o evento e com seus participantes, praticando o melhor da vida: a convivência e a descoberta.
O texto foi produzido pelo Douglas, do Listas Literárias: www.listasliterarias.org

domingo, 8 de agosto de 2010

10 ERROS COMUNS EM REDAÇÃO


Veja a seguir a relação dos erros mais freqüentes em redação:

1) Para “mim” fazer: o “mim” não faz, porque não pode ser sujeito.

2) “Há” cinco anos “atrás”: há e atrás indicam passado na frase. Dessa forma deve-se usar apenas “há cinco anos” ou “cinco anos atrás”.

3) Venda “à” prazo: não se usa o acento grave antes de palavra masculina, a não ser que esteja subentendida à moda.

4) Todos somos “cidadões”: o plural de cidadão é cidadãos.

5) Entre “eu” e você: Depois da preposição, usa-se mim ou ti.

6) Que “seje” eterno: o subjuntivo de ser e estar é seja e esteja.

7) Ela é “de” menor: neste caso o “de” não existe.

8) Creio “de” que: não se usa a preposição “de” antes de qualquer “que”.

9) Ela veio, “mais” você, não: usa-se neste caso o “mas”, conjunção, que indica restrição, ressalva.

10) Falo alto porque você “houve” mal: neste caso o houve é pretérito do verbo haver (existência), ao se referir à audição usa-se “ouve”.

Marilene
O VALOR DOS NOSSOS SONHOS

"NAS GRANDES BATALHAS DA VIDA O PRIMEIRO PASSO

PARA A VITÓRIA É O DESEJO DE VENCER."

Muitas vezes aparecerão obstáculos em nossa caminhada. Alguns dirão que nosso sonho é uma grande bobagem. Ou, ainda, que se trata de muito esforço à toa. Outros falarão que não somos capazes de alcançá-los e que deveríamos optar por objetivos mais fáceis. E assim, muitos desistem da luta, por medo, por preguiça ou porque acreditaram nas previsões negativas dos outros. Mas o mais importante é acreditarmos na nossa capacidade e nos esforçar para alcançar nossos objetivos"e principalmente não nos entregarmos e continuarmos nossa busca pelo nosso sonho. A realização de um sonho é o maior passo para uma vida de felicidade e prosperidade.
Todo ser humano possui sonhos. Sonhos grandes, sonhos pequenos, sonho. Sonhos nascem a cada dia, a cada hora, a cada minuto. Sem precebermos um sonho nasce dentro do nosso coração. Sonhos nos motivam a viver, a continuarmos caminhando. Vivemos, na verdade, na busca da realização dos nossos sonhos. Às vezes, pessoas que estão ao nosso redor tentam matá-los com palavras de pessimismo. Acham que, se não podem realizar seus sonhos, as outras pessoas também não merecem realizar os seus. Puro egoísmo. Muitas vezes, ,achamos que não conseguiremos realizá-los, que eles estão muito distante de nós. Ou achamos que não merecemos, porque não somos capazes se não acreditarmos neles, os perderemos. Temos que tirar do baú os sonhos, caso contrário, eles envelhecem e assim não conseguiremos mais realizá-los. A realização vem pela luta, esforço e persistência. Caminhar ao lado de pessoas que nos motivem a sonhar e a persistir nos mesmo é muito importante. É um passo para a realização deles.
Ouse sonhar pois, os sonhadores vêem o amanhã, ouse fazer um desejo, pois desejar abre caminhos para a esperança e ela é o que nos mantém vivos. Ouse buscar as coisas, que ninguém mais pode ver. Não tenha medo de ver o que os outros não podem. Acredite em seu coração e em sua própria bondade, pois, ao fazê-lo, outros acreditarão nisso também. Acredite na magia, pois a vida é cheia dela, mas, acima de tudo, acredite em si mesmo... porque dentro de você reside toda a magia da esperança, do amor e dos sonhos de amanhã.
Mesmo que tudo o leve a pensar que parece impossível, não desista do seu sonho. Busque forças dentro de você. Peça ajuda a Deus. Nenhuma oração volta sem resposta. Acredite que tudo pode acontecer quando desejamos do fundo do coração. Da Bíblia temos que:"Tudo posso naquele que me fortalece". Tudo e não algumas coisas! Acredite na beleza dos seus sonhos e na capacidade de realizá-los. Você é capaz! Sonhe sempre. Nunca deixe de sonhar e você será sempre um vencedor.

ANA PAULA CALIXTO TEIXEIRA

terça-feira, 3 de agosto de 2010

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segunda-feira, 17 de maio de 2010

ANEROXIA E A BULIMIA NA ADOLESCÊNCIA


Sintomas
• Peso corporal em 85% ou menos do nível normal.
• Prática excessiva de atividades físicas, mesmo tendo um peso abaixo do normal. Comumente, anoréxicos vêem peso onde não existe, ou seja, o anorético pensa que tem um peso acima do normal.
• Em pessoas do sexo feminino, ausência de ao menos três ou mais menstruações. A anorexia nervosa pode causar sérios danos ao sistema reprodutor feminino.
• Diminuição ou ausência da líbido; nos rapazes poderá ocorrer disfunção erétil e dificuldade em atingir a maturação sexual completa, tanto a nível físico como emocional.
• Crescimento retardado ou até paragem do mesmo, com a resultante má formação do esqueleto (pernas e braços curtos em relação ao tronco).
• Descalcificação dos dentes; cárie dentária.
• Depressão profunda.
• Tendências suicidas.
• Bulimia, que pode desenvolver-se posteriormente em pessoas anoréxicas.
• Obstipação grave.
A anorexia possui um índice de mortalidade entre 15 a 20%, o maior entre os transtornos psicológicos, geralmente matando por ataque cardíaco, devido à falta de potássio ou sódio (que ajudam a controlar o ritmo normal do coração). Pode ser causada por distúrbio da auto-estima.
Esperança é a palavra-chave, até porque, sublinha a presidente da Associação dos Familiares e Amigos dos Anorécticos e Bulímicos, «70 por cento destes doentes têm cura definitiva».
Anorexia é um mal que acontece quando os jovens tentam emagrecer através de dieta ou outras maneiras e a tentativa é frustrante então param de comer ou reduzem ao maximo nos habitos alimentares e surge essa doença avassaladora.
Causas e grupos de risco
A anorexia nervosa afeta muito mais pessoas jovens (entre 15 a 25 anos), e do sexo feminino (95% dos casos ocorrem em mulheres). Tem sido enfatizada, em debates populares, a importância da mídia para o desenvolvimento de desordens como anorexia e bulimia, por alegadamente promover ela uma identificação da beleza com padrões físicos de magreza acentuada. Qualquer papel a ser exercido pela cultura de massa na promoção dessas desordens, no entanto, está ainda para ser demonstrado. Na busca da etiologia de perturbações da saúde mental, inclusive da anorexia nervosa, comumente são procuradas causas de ordem intrapsíquico, ambiental e genético.
Até agora, os seguintes fatos têm emergido na busca das causas desse transtorno:
Causas genéticas/ambientais:
• Estudos sobre desenvolvimento de transtornos alimentares envolvendo irmãs gêmeas têm sugerido um fundo genético para o desenvolvimento da anorexia.
• Pais e mães de pacientes diagnosticadas com essa desordem possuem, relativamente a grupos de comparação da população não seleta, níveis mais elevados de perfeccionismo e preocupação com a forma física.
Características sociopsíquicas de anoréxicas:
• Independentemente do subtipo de anorexia desenvolvida, restritiva ou purgativa, anoréxicas possuem, relativamente a pessoas saudáveis de sua idade e sexo, uma incidência maior de transtornos da ansiedade (especialmente o transtorno obsessivo-conmpulsivo) e do humor.
• Níveis exageradamente elevados de perfeccionismo (busca por padrões de conquista e realizações notavelmente altos, necessidade de controle, intolerância a "falhas" ou "imperfeições") são comuns, e mesmo centrais, no desenvolvimento da anorexia. A presença dessa busca por padrões de perfeição transcende o desenvolvimento da doença, sendo anterior a ela e permanecendo em pacientes que já foram curadas da doença. Alguns estudos sugerem que, apesar de uma inteligência média na faixa regular, anoréxicas possuem níveis mais altos de performance escolar e envolvimento acadêmico, o que sugere que o perfeccionismo nelas presente não se limita a temas relacionados apenas com comida e forma corporal.
• Outros traços obsessivos-compulsivos, além do perfeccionismo, são notados na infância de anoréxicas, principalmente inflexibilidade, forte adesão a regras estabelecidas, observação dos padrões mantidos por autoridades, etc.
• Incidência de abuso físico ou sexual é mais elevada em grupos de anoréxicos; em um estudo efetivado na América do Norte, a presença de um histórico de abuso sexual na infância apresentou uma forte associação com o desenvolvimento de transtornos alimentares em grupos de homens homossexuais.
Tratamento
Deve-se ter duas vertentes, a não-farmacológica e a farmacológica. Entretanto deve-se ter em mente a importância de uma relação médico-paciente satisfatória,uma vez que a negação pelo paciente é muitas vezes presente. Dependendo do estado geral da paciente pode-se pensar em internação para restabelecimento da saúde. Correção de possíveis alterações metabólicas e um plano alimentar bem definido são fundamentais. Além disso, o tratamento também deve abordar o quadro psicológico, podendo ser principalmente a terapia cognitivo-comportamental e psicoterapia individual. Em relação a abordagem farmacológico tem-se utilizado principalmente os antidepressivos, mas que é uma área que carece de muitos resultados satisfatórios tendo em vista a multicausalidade da doença. Dessa forma, é importante uma abordagem multi-disciplinar, apoio da família e aderência do paciente. As recaídas podem acontecer, daí a importância de se ter um acompanhamento profissional por grandes períodos.

WIKIPEDIA
DEBATE: TELEVISÃO E EDUCAÇÃO


Que importância tem a TV em nosso cotidiano? Por que ela se torna objeto de preocupação de políticos, de empresários, de pensadores, artistas e especialmente, de pais e educadores?
Que poder teriam as imagens que diariamente nos chegam, as quais buscamos com tanto interesse e às vezes até paixão?
O fato é que a TV se transformou num eletrodoméstico do qual já não abrimos mão: ela é um objeto técnico, eletrônico, que habita a intimidade das residências, das salas de estar e jantar, das cozinhas e dos quartos de dormir, bem como refeitórios de escolas, salões de festa, bares e restaurantes, com suas imagens eletrônicas que se tornam para nós quase uma necessidade básica. Mas a TV é sobretudo um meio de comunicação, isto é, participa de um complexo aparato cultural e econômico de produção e veiculação de imagens e sons, informação, publicidade e divertimento. Num caso como no outro, o certo é que a televisão é parte integrante e fundamental de complexos processos de veiculação e de produção de significações, de sentidos, os quais por sua vez estão relacionados a modos de ser, a modos de pensar, a modos de conhecer o mundo, de se relacionar com a vida.
A TV – poderíamos dizer – opera como uma espécie de processador daquilo que ocorre no tecido social, de tal forma que “tudo” deve passar por ela, “tudo” deve ser narrado, mostrado, significado por ela. “O que é invisível para as objetivas da TV não faz parte do espaço público brasileiro” – escreve Eugênio Bucci em seu livro Brasil em tempo de TV. Para o autor, o modelo de televisão que temos no Brasil permite que se produza através dos programas veiculados e do próprio hábito cotidiano de assistir a TV uma espécie de unificação do país no plano do imaginário. Assim, se a sociedade é outra porque existe a TV, falar da televisão brasileira é falar do Brasil, e discuti-la significa debater parte significativa de nossa realidade (Cf. Bucci, 1997, p. 11-38).
Ao mesmo tempo em que há essa função maior, ampla, da TV no mundo social, é preciso compreender também que, sem sombra de dúvidas, a TV se torna, cada vez mais, um lugar privilegiado de aprendizagens diversas; aprendemos com ela desde formas de olhar e tratar nosso próprio corpo, até modos de estabelecer e de compreender diferenças: diferenças de gênero (isto é, na TV aprendemos todos os dias como “são” ou “devem ser” homens e mulheres), diferenças políticas, econômicas, étnicas, sociais, geracionais (aprendemos modos de agir, modos de ser de crianças, de negros, de pobres ou ricos, e assim por diante).
As profundas alterações naquilo que hoje compreendemos como “público” ou “privado”, igualmente, têm um tipo de visibilidade especial no espaço da televisão e da mídia de um modo geral. Refiro-me aqui a modos de ser e estar no mundo, narrados através de sons e imagens, que acabam por ter uma participação significativa na vida das pessoas. São modos de vida que de alguma forma pautam, orientam, interpelam o cotidiano de milhões de cidadãos brasileiros – ou seja, participam da produção de sua identidade individual e cultural e operam sobre a constituição de sua subjetividade.
A crescente valorização da vida privada seria um exemplo disso. Ela corresponde não só ao elogio do individualismo, como expõe a grande separação e até mesmo oposição entre a esfera privada, de um lado, e as esferas social e política, de outro. Considerando a ação dos meios de comunicação, nesse sentido, poderíamos apontar para uma série de problemas novos, produzidos justamente pela excessiva exposição do privado: parece que, para sermos “realidade”, precisamos ser vistos e ouvidos no espaço público da mídia (especialmente na TV). Que é feito de nossos sentimentos, num tempo em que eles “precisam” tão avidamente ser plenamente falados e expostos? Que encanto extraordinário tem a esfera pública midiática, a ponto de por ela nos desfazermos de nossa intimidade? Para a filósofa Hanna Arendt, essa ampliação da esfera privada não a transforma em pública; pelo contrário, significa que a esfera pública perdeu espaço e também que estar na companhia uns dos outros parece ter perdido força: ficamos cada vez mais “privados” de ver e ouvir profundamente os outros, já que estamos tão voltados para nós mesmos. E isso é aprendido todos os dias nas telas da TV.
Assim, para a educação, torna-se fundamental discutir e pensar sobre o quanto nós, professores, talvez saibamos muito pouco a respeito das profundas transformações que têm ocorrido nos modos de aprender das gerações mais jovens. Afinal, o que é para eles estar informado ou buscar informação? De que modo seu gosto estético está sendo formado? O que seus olhos buscam ver na TV, o que olham e o que dizem do que olham? Que sonoridades lhes são familiares, aprendidas nos espaços da mídia? O que lhes dá prazer nessas imagens midiáticas? Com que figuras ou situações alunos e alunas se identificam mais acentuadamente? Que modos de representar visualmente os objetos, os sentimentos, as relações entre as pessoas são cotidianamente aprendidos a partir da linguagem da televisão? De que modo vamos aprendendo a desejar este ou aquele objeto, através das imagens e sons da TV? Que novos modos de narrar, de contar histórias, aprendemos através da experiência diária com a TV?
Essas perguntas, como se vê, procuram não separar “forma” de “conteúdo”. Elas apontam para o fato de que a própria linguagem da TV, todos os recursos utilizados para a elaboração de um programa ou mesmo um comercial, e ainda, todas as estratégias de veiculação desses produtos, os modos como eles são dirigidos a este ou àquele público, também comunicam algo, participam da defesa de um ponto de vista, de uma idéia, e assim por diante.
Ao investigar as características da imagem eletrônica aprendemos que ao ver TV completamos as figuras da tela, pois se trata de uma imagem feita de milhares de pontos de luz; aprendemos que a TV é feita para espectadores dispersos, que a toda hora são chamados a prestar atenção em algo; aprendemos também que a pequena tela exige primeiros planos, detalhes, mas ao mesmo tempo é necessário que os cenários não contenham elementos em profusão, que sejam “limpos”, despojados, distintos da chamada “realidade”.
Esses são apenas alguns elementos da linguagem televisiva, das condições concretas de produção e veiculação das imagens eletrônicas, que podem tornar-se básicos para um trabalho educacional, com estudantes de todos os níveis. As imagens da TV, suas diferentes estratégias de linguagem (o som, a edição, o texto falado, o texto escrito, os cortes, a escolha dos cenários e dos atores e apresentadores) – tudo isso precisa ser pensado simultaneamente dos pontos de vista técnico e comunicacional, social, cultural, educativo. Ao estudar a TV e sua linguagem, a TV e suas estratégias de veiculação, podemos questionar as opções assumidas: Será que um programa infantil sempre deve ser apresentado por uma “fada loura”? Será que sempre precisamos “ensinar” coisas aos espectadores infantis? Por que nos programas de entrevista parece quase obrigatório que o convidado praticamente faça confissões, exponha sua intimidade sexual e amorosa? Por que as imagens da TV, como escreve Beatriz Sarlo (1997), são apresentadas em tanta quantidade, são tão excessivas e rápidas, e ao mesmo tempo informam tão pouco? Isso é “próprio” da TV?
Ou seja, quando nos propomos a estudar a TV, começamos a discutir sobre escolhas feitas na elaboração de um produto que nos chega, na intimidade de nossas casas, no cotidiano de nossas vidas. E essas escolhas inevitavelmente envolvem valores, posições políticas, éticas, estéticas. Envolvem também compreender, como escreve Milton Almeida, que “a transmissão eletrônica de informações em imagem-som propõe uma maneira diferente de inteligibilidade, sabedoria e conhecimento, como se devêssemos acordar algo adormecido em nosso cérebro para entendermos o mundo atual, não só pelo conhecimento fonético-silábico das nossas línguas, mas pelas imagens-sons também” (Almeida, 1994, p. 16).
Nesta série, que será apresentada no programa Salto para o Futuro/TV Escola de 23 a 27 de junho de 2003, pretende-se promover um debate entre educadores e comunicadores, sobre a televisão que vemos (e que também nos olha), entendendo que hoje se torna imprescindível uma educação para a mídia audiovisual. Supõe-se que transformar a TV em objeto de estudo – e a mídia, de um modo mais amplo também – constitui tarefa permanente e desejável no interior de nossas práticas pedagógicas cotidianas, se efetivamente nos interessa compreender mais sobre o tempo presente, a cultura que vivemos, os modos de vida que produzimos e que nos produzem. Desta forma, os cinco programas desta série destinam-se a discutir: a presença da TV em nossas vidas; a importância social desse eletrodoméstico, as formas pelas quais seus produtos nos interpelam, os sentidos que neles se constroem, os modos como diferentes públicos se relacionam com tais construções simbólicas; a própria criação e elaboração dos produtos televisivos e as estratégias de linguagem da TV, na busca de atingir o espectador. Finalmente, o que desejamos é pensar com os professores, as amplas possibilidades de efetiva e criativamente experimentar, na escola, formas de fruir e pensar a TV.
Objetivo geral da série
O objetivo desta série é suscitar um debate entre educadores e comunicadores sobre a televisão que vemos (e que nos olha): afinal, por que se torna imprescindível uma educação, hoje, para a mídia audiovisual? Supõe-se que transformar a TV em objeto de estudo – e a mídia, de um modo mais amplo também – constitui tarefa permanente e desejável no interior de nossas práticas pedagógicas cotidianas, se efetivamente nos interessa compreender mais sobre o tempo presente, a cultura que vivemos, os modos de vida que produzimos e que nos produzem. Assim, os programas destinam-se a discutir: a presença da TV em nossas vidas; a importância social desse eletrodoméstico, as formas pelas quais seus produtos nos interpelam, os sentidos que neles se constroem, os modos como diferentes públicos se relacionam com tais construções simbólicas; a própria criação e elaboração dos produtos televisivos e as estratégias de linguagem da TV, na busca de atingir o espectador; finalmente, as amplas possibilidades de efetiva e criativamente experimentar, na escola, formas de fruir e pensar a TV.
Estes são os programas da série e os temas que serão debatidos em cada programa:
PGM 1 – A TV QUE VEMOS E A TV QUE NOS OLHA
Neste programa, será feita a apresentação geral da série, com uma discussão sobre a presença e a importância política, social e cultural da TV em nossas vidas. Afinal, que força é essa desse eletrodoméstico que transforma os espaços públicos e privados? A TV que vemos é também a TV que nos olha, através de todos os olhares daqueles que a fazem. A TV e a promoção de uma “unidade” nacional e internacional. Nosso cotidiano com (e sem) a TV. Por que a TV pode (e deve) tornar-se objeto de estudo na escola?
PGM 2 – A TV E A TRANSFORMAÇÃO DO PÚBLICO E DO PRIVADO
O segundo programa da série vai debater o papel da TV nas profundas mudanças na vida privada e nos modos de entender e viver o que é da ordem do político, o que é da esfera pública. A cultura das sensações, a alteração em nossas concepções e experiências em relação à intimidade. Questões públicas na TV. Telejornais, reality shows, programas de auditório, telenovelas – os diferentes gêneros de programas de TV e sua relação com a vida privada, sexualidade, exposição dos corpos e das banalidades cotidianas. Que sujeitos estão sendo formados nessa nova educação da vida íntima e da vida em espaços coletivos? A importância disso especialmente para a formação dos jovens.
PGM 3 – COM QUE LINGUAGENS SE FAZ A TV?
O making of da TV: qual a mágica dessas imagens que nos “chamam” a todo o instante em nossas casas? De que linguagens e de que operações é feito um programa de TV? Como se captam as imagens, como se inventa um programa? Qual a importância das imagens e das palavras na TV? Por que a sonorização é tão importante? Como, enfim, se faz um programa de TV? A capacidade da TV de produzir sentidos, de persuadir o público: na televisão, forma e conteúdo não se separam.
PGM 4 – A QUEM SE ENDEREÇA A TV? O CASO DO PÚBLICO INFANTIL
A TV e seus públicos. Afinal, a quem se endereçam os diferentes programas? Quem este (ou aquele) programa pensa que nós somos? Quem a TV, com o programa “x” deseja que sejamos? Quem está na TV? De que pessoas fala a TV? Quem é o brasileiro representado na TV? Como as pessoas se reconhecem (ou não) nos diversos programas oferecidos? O que (e quem) não aparece na TV. Como a TV constrói modos de ser criança e como as crianças se vêem na TV.
PGM 5 – É POSSÍVEL EDUCAR PARA E COM A TV?
O debate sobre as múltiplas relações entre televisão e educação, entre prática pedagógica e comunicação eletrônica. Como fazer da TV objeto de estudo? As transformações nas agências tradicionais de educação, família e escola, e a crescente força dos meios de comunicação como agentes formadores dos sujeitos e grupos sociais. Sugestões de como construir uma autêntica compreensão do fenômeno da TV em nossas vidas, e de como ele atua sobre todos nós, enquanto telespectadores. Caminhos e possibilidades de atuação dos professores na busca de uma educação para e com a televisão.
BIBLIOGRAFIA:
ALMEIDA, Milton. Imagens e sons. A nova cultura oral. São Paulo: Cortez, 1994.
ARENDT, Hannah. As esferas pública e privada. In: . A condição humana. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 31-88.
BUCCI, Eugênio. Brasil em tempo de TV. São Paulo: Boitempo, 1997.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Televisão & educação: fruir e pensar a TV. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1988.
 A TV levada a sério. São Paulo: SENAC, 2000.
SARLO, Beatriz. Cenas da vida pós-moderna. Intelectuais, arte e vídeo-cultura na Argentina. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1997.
NOTAS:
* Jornalista, doutora em Educação, professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), no curso de Pedagogia e no Programa de Pós-Graduação em Educação. É autora dos livros O mito na sala de jantar (Porto Alegre: Movimento, 1993, 2ª ed.) e Televisão & educação: fruir e pensar a TV (Belo Horizonte: Autêntica, 2001). Consultora desta série.

1 Reproduzo neste texto, com as devidas adaptações, alguns trechos do livro Televisão & educação: fruir e pensar a TV (op. cit.).


SALTO PARA O FUTURO / TV ESCOLA

terça-feira, 4 de maio de 2010

ALGUMAS FOTOS DO PASSEIO AO ZOO COM ALUNOS DA ESCOLA ESTADUAL IRMÃ CHARLITA - ABRIL DE 2010
RESENHA DO LIVRO A MARCA DE UMA LÁGRIMA


A obra de Pedro Bandeira, A marca de uma lágrima, conta a historia de Isabel, uma jovem estudante de 14 anos, que se acha feia, será mesmo? Isabel é uma garota bastante esperta que enfrenta problemas relacionados a juventude, o que chama a atenção em Isabel é que ela sempre tem uma resposta para tudo. Na obra, a historia de Isabel começa quando ela é convidada para ir a uma festa, de seu primo, Cristiano.Isabel não via Cristiano desde crianças, nem imaginara, nem queria imaginar como ele estava.Por sua vontade não iria a festa mas sobre a insistência de sua mãe, Isabel foi. Ela chamou sua melhor amiga Rosana,para ir junto com ela. Rosana, chegou a casa de Isabel linda, Rosana era incrivelmente linda Isabel sentia-se humilhada diante de Rosana. Na festa Isabel conhece e se apaixona por Cristiano, ele a cumprimenta e vai para perto de Rosana,por toda a festa Rosana e Cristiano não se largaram isso deixou Isabel péssima, ela bebia tudo o que via, uma hora ela foi para o jardim, estava na penumbra sozinha, com seu copo, assistindo de longe os casais consumirem na festa toda a seleção de musicas, foi aí que ela conheceu um rapaz, Fernando, que se apaixonou por ela assim que a viu. mas ela deu um fora nele fazendo-o deixá-la sozinha. mais tarde ela já estava quase que embriagada um rapaz chegou, tomou-a nos braços e beijou-a, num beijo quente e doce,imaginando que era Cristiano que a beijava,ela cria um conto de fadas onde Cristiano é o príncipe, conto esse que se quebraria logo a diante quando Cristiano declara seu amor a Rosana. Isabel passa a escrever cartas e versos para ajudar o namoro de sua melhor amiga Rosana, com seu grande amor, Cristiano. Como se não bastasse seu amor não correspondido, ela ainda se envolve em uma trama que envolvia a morte de sua diretora, levanta-se a questão, "Terá sido mesmo suicidio".Acoada, desesperada, a ideia de morte passa a tomar conta de seu ser, enquanto seu coração se despedaça pelo amor por Cristiano.O texto utiliza uma linguagem culta e ao mesmo tempo popular, que nos deixa plugados até a ultima página com seu final surpreendente.
RESENHA FILME JUNO


O roteiro de Diablo Cody (vencedor do Oscar na categoria de roteiro original de 2007) centra um olhar diligente sobre três jovens; Juno (interpretada por Ellen Page), uma garota de 16 anos que engravida do melhor amigo, o tranquilo e meigo Bleeker (Michael Cera), e Leah (Olivia Thirby), a melhor amiga da protagonista. Os três estão inseridos em um mundo curioso de descobertas e afirmações. Contudo, agem com espontaneidade. Não há o arrebatador (em alguns poucos momentos) e irritante (no tempo restante) apelo aos hormônios adolescentes. “Juno” é uma comédia sobre escolhas e amadurecimento.
O diretor Jason Reitman permite aos personagens que caminhem com as próprias pernas. Foge da afetação e do risco de se tornar uma hilariante e descompassada produção sobre o amor e a amizade juvenil num turbilhão hormonal. Juno engravida de Bleeker seu melhor amigo. Ao se decidir pelo aborto, a jovem visita uma clínica, e ao descobrir que os bebês já têm unhas no segundo mês de gestação, ela muda de ideia, e opta em prosseguir com a gravidez e entregar a criança para pais adotivos. Ao procurarem candidatos apropriados para a adoção, Juno e a extrovertida Leah encontram em uma revista, a foto e a “ficha técnica” de Vanessa (Jennifer Garner) e Mark Loring (Jason Bateman). Ao comunicar ao pai (J.K. Simmons) e a madrasta (Allison Janney) a gravidez precoce, Juno encontra apoio e revela sua decisão de entregar a criança ao casal Loring. O filme intercala quatro momentos que transcorrme segundo as estações do ano: outono, inverno, primavera e verão. Juno leva a sério à gravidez e a palavra empenhada (e os documentos assinados). Nesse ínterim, a jovem desenvolve uma amizade de relativa dubiedade com Mark, que manifesta o desejo de se separar de Vanessa, o que pode colocar o arranjo sobre o bebê em perigo. Enquanto isso, o relacionamento de Juno com Bleeker está em suspense com muitos sentimentos não resolvidos.
O mérito de Diablo Cody e Jason Reitman reside, principalmente, na fuga dos clichês que assolam o cinema estadunidense do establishment. A dupla exibe o que há de constrangedor e belo nos relacionamentos adolescentes (sem afetação, diferenciando das imputadas pela ficção, fake do cotidiano), cria diálogos engraçados – nada caricatos ou carregados de duplo sentido como os habituais do gênero humorístico juvenil – que têm boas doses de ironia e sinceridade. O comum em “Juno” resplandece como algo especial na vibração, gentileza e firmeza de opiniões desses adolescentes (e no desejo vital de Vanessa em ser mãe). A delicada decisão de Reitman (apoiado no roteiro de Cody) em mostrar – escapando dos estereótipos – a gravidez na adolescência com algo sério, mas não dramático, como se todas as oportunidades estivessem em vias de findar faz a diferença no saldo do filme.
“Juno” revelou-se como uma comédia pulsante que se sustenta em interpretações irrepreensíveis e na inteligência que faz do comum o escol da ousadia.

sábado, 24 de abril de 2010

RESUMO


Resumo é uma condensação fiel das ideias ou dos fatos contidos no texto. Resumir um texto significa reduzi-lo ao seu esqueleto essencial sem perder de vista três elementos:
a)cada uma das partes essenciais do texto;
b)a progressão em que elas sucedem;
c)a correlação que o texto estabelece entre cada uma dessas partes.
O resumo é, pois, uma redução do texto original, procurando captar suas ideias essenciais, na progressão e no encadeamento em que aparecem no texto.
Quem resume deve exprimir, em seu estilo objetivo, os elementos essenciais do texto.por isso não cabem, num resumo, comentários ou julgamento ao que está sendo condensado.
Muitas pessoas julgam que resumir é reproduzir frases ou partes de frases do texto original, construindo uma espécie de “colagem”. Essa “colagem” de fragmentos do texto original não é um resumo. Resumir á apresentar, com as próprias palavras, os pontos relevantes de um texto. A reprodução de frases do texto, em geral, atesta que ele não foi compreendido.
Para elaborar um bom resumo é necessário observar:
a)a complexidade do próprio texto( vocabulário, estrutura, o sentido, o assunto);
b)da competência do leitor (amadurecimento intelectual, repertório de informações que possui, familiaridade com os temas explorados);
c)ler primeiramente em uma única vez sem interrupções, se perguntando: do que trata o texto?
d)uma segunda leitura é sempre necessária(desta vez já com interrupções, verificando frases e vocábulos complexos e conectivos);
e)quando se tratar de um pequeno texto, fazer anotações segmentadas em blocos oferecendo sentido e assim iniciando o trabalho;
f)ao se tratar de uma obra, um livro, dependerá de cada capítulo (cada texto): as oposições entre os personagens, as oposições de espaço, de tempo).
É importante , dar à redação suas palavras, procurando não só condensar os segmentos mas encadeá-los na progressão em que se sucedem no texto e estabelecer as relações entre eles.

segunda-feira, 22 de março de 2010

                                 Amor                       
        Clarice Lispector



Um pouco cansada, com as compras deformando o novo saco de tricô, Ana subiu no bonde. Depositou o volume no colo e o bonde começou a andar. Recostou-se então no banco procurando conforto, num suspiro de meia satisfação.
Os filhos de Ana eram bons, uma coisa verdadeira e sumarenta. Cresciam, tomavam banho, exigiam para si, malcriados, instantes cada vez mais completos. A cozinha era enfim espaçosa, o fogão enguiçado dava estouros. O calor era forte no apartamento que estavam aos poucos pagando. Mas o vento batendo nas cortinas que ela mesma cortara lembrava-lhe que se quisesse podia parar e enxugar a testa, olhando o calmo horizonte. Como um lavrador. Ela plantara as sementes que tinha na mão, não outras, mas essas apenas. E cresciam árvores. Crescia sua rápida conversa com o cobrador de luz, crescia a água enchendo o tanque, cresciam seus filhos, crescia a mesa com comidas, o marido chegando com os jornais e sorrindo de fome, o canto importuno das empregadas do edifício. Ana dava a tudo, tranqüilamente, sua mão pequena e forte, sua corrente de vida.
Certa hora da tarde era mais perigosa. Certa hora da tarde as árvores que plantara riam dela. Quando nada mais precisava de sua força, inquietava-se. No entanto sentia-se mais sólida do que nunca, seu corpo engrossara um pouco e era de se ver o modo como cortava blusas para os meninos, a grande tesoura dando estalidos na fazenda. Todo o seu desejo vagamente artístico encaminhara-se há muito no sentido de tornar os dias realizados e belos; com o tempo, seu gosto pelo decorativo se desenvolvera e suplantara a íntima desordem. Parecia ter descoberto que tudo era passível de aperfeiçoamento, a cada coisa se emprestaria uma aparência harmoniosa; a vida podia ser feita pela mão do homem.
No fundo, Ana sempre tivera necessidade de sentir a raiz firme das coisas. E isso um lar perplexamente lhe dera. Por caminhos tortos, viera a cair num destino de mulher, com a surpresa de nele caber como se o tivesse inventado. O homem com quem casara era um homem verdadeiro, os filhos que tivera eram filhos verdadeiros. Sua juventude anterior parecia-lhe estranha como uma doença de vida. Dela havia aos poucos emergido para descobrir que também sem a felicidade se vivia: abolindo-a, encontrara uma legião de pessoas, antes invisíveis, que viviam como quem trabalha — com persistência, continuidade, alegria. O que sucedera a Ana antes de ter o lar estava para sempre fora de seu alcance: uma exaltação perturbada que tantas vezes se confundira com felicidade insuportável. Criara em troca algo enfim compreensível, uma vida de adulto. Assim ela o quisera e o escolhera.
Sua precaução reduzia-se a tomar cuidado na hora perigosa da tarde, quando a casa estava vazia sem precisar mais dela, o sol alto, cada membro da família distribuído nas suas funções. Olhando os móveis limpos, seu coração se apertava um pouco em espanto. Mas na sua vida não havia lugar para que sentisse ternura pelo seu espanto — ela o abafava com a mesma habilidade que as lides em casa lhe haviam transmitido. Saía então para fazer compras ou levar objetos para consertar, cuidando do lar e da família à revelia deles. Quando voltasse era o fim da tarde e as crianças vindas do colégio exigiam-na. Assim chegaria a noite, com sua tranqüila vibração. De manhã acordaria aureolada pelos calmos deveres. Encontrava os móveis de novo empoeirados e sujos, como se voltassem arrependidos. Quanto a ela mesma, fazia obscuramente parte das raízes negras e suaves do mundo. E alimentava anonimamente a vida. Estava bom assim. Assim ela o quisera e escolhera.
O bonde vacilava nos trilhos, entrava em ruas largas. Logo um vento mais úmido soprava anunciando, mais que o fim da tarde, o fim da hora instável. Ana respirou profundamente e uma grande aceitação deu a seu rosto um ar de mulher.
O bonde se arrastava, em seguida estacava. Até Humaitá tinha tempo de descansar. Foi então que olhou para o homem parado no ponto.
A diferença entre ele e os outros é que ele estava realmente parado. De pé, suas mãos se mantinham avançadas. Era um cego.
O que havia mais que fizesse Ana se aprumar em desconfiança? Alguma coisa intranqüila estava sucedendo. Então ela viu: o cego mascava chicles... Um homem cego mascava chicles.
Ana ainda teve tempo de pensar por um segundo que os irmãos viriam jantar — o coração batia-lhe violento, espaçado. Inclinada, olhava o cego profundamente, como se olha o que não nos vê. Ele mascava goma na escuridão. Sem sofrimento, com os olhos abertos. O movimento da mastigação fazia-o parecer sorrir e de repente deixar de sorrir, sorrir e deixar de sorrir — como se ele a tivesse insultado, Ana olhava-o. E quem a visse teria a impressão de uma mulher com ódio. Mas continuava a olhá-lo, cada vez mais inclinada — o bonde deu uma arrancada súbita jogando-a desprevenida para trás, o pesado saco de tricô despencou-se do colo, ruiu no chão — Ana deu um grito, o condutor deu ordem de parada antes de saber do que se tratava — o bonde estacou, os passageiros olharam assustados.
Incapaz de se mover para apanhar suas compras, Ana se aprumava pálida. Uma expressão de rosto, há muito não usada, ressurgia-lhe com dificuldade, ainda incerta, incompreensível. O moleque dos jornais ria entregando-lhe o volume. Mas os ovos se haviam quebrado no embrulho de jornal. Gemas amarelas e viscosas pingavam entre os fios da rede. O cego interrompera a mastigação e avançava as mãos inseguras, tentando inutilmente pegar o que acontecia. O embrulho dos ovos foi jogado fora da rede e, entre os sorrisos dos passageiros e o sinal do condutor, o bonde deu a nova arrancada de partida.
Poucos instantes depois já não a olhavam mais. O bonde se sacudia nos trilhos e o cego mascando goma ficara atrás para sempre. Mas o mal estava feito.
A rede de tricô era áspera entre os dedos, não íntima como quando a tricotara. A rede perdera o sentido e estar num bonde era um fio partido; não sabia o que fazer com as compras no colo. E como uma estranha música, o mundo recomeçava ao redor. O mal estava feito. Por quê? Teria esquecido de que havia cegos? A piedade a sufocava, Ana respirava pesadamente. Mesmo as coisas que existiam antes do acontecimento estavam agora de sobreaviso, tinham um ar mais hostil, perecível... O mundo se tornara de novo um mal-estar. Vários anos ruíam, as gemas amarelas escorriam. Expulsa de seus próprios dias, parecia-lhe que as pessoas da rua eram periclitantes, que se mantinham por um mínimo equilíbrio à tona da escuridão — e por um momento a falta de sentido deixava-as tão livres que elas não sabiam para onde ir. Perceber uma ausência de lei foi tão súbito que Ana se agarrou ao banco da frente, como se pudesse cair do bonde, como se as coisas pudessem ser revertidas com a mesma calma com que não o eram.
O que chamava de crise viera afinal. E sua marca era o prazer intenso com que olhava agora as coisas, sofrendo espantada. O calor se tornara mais abafado, tudo tinha ganho uma força e vozes mais altas. Na Rua Voluntários da Pátria parecia prestes a rebentar uma revolução, as grades dos esgotos estavam secas, o ar empoeirado. Um cego mascando chicles mergulhara o mundo em escura sofreguidão. Em cada pessoa forte havia a ausência de piedade pelo cego e as pessoas assustavam-na com o vigor que possuíam. Junto dela havia uma senhora de azul, com um rosto. Desviou o olhar, depressa. Na calçada, uma mulher deu um empurrão no filho! Dois namorados entrelaçavam os dedos sorrindo... E o cego? Ana caíra numa bondade extremamente dolorosa.
Ela apaziguara tão bem a vida, cuidara tanto para que esta não explodisse. Mantinha tudo em serena compreensão, separava uma pessoa das outras, as roupas eram claramente feitas para serem usadas e podia-se escolher pelo jornal o filme da noite - tudo feito de modo a que um dia se seguisse ao outro. E um cego mascando goma despedaçava tudo isso. E através da piedade aparecia a Ana uma vida cheia de náusea doce, até a boca.
Só então percebeu que há muito passara do seu ponto de descida. Na fraqueza em que estava, tudo a atingia com um susto; desceu do bonde com pernas débeis, olhou em torno de si, segurando a rede suja de ovo. Por um momento não conseguia orientar-se. Parecia ter saltado no meio da noite.
Era uma rua comprida, com muros altos, amarelos. Seu coração batia de medo, ela procurava inutilmente reconhecer os arredores, enquanto a vida que descobrira continuava a pulsar e um vento mais morno e mais misterioso rodeava-lhe o rosto. Ficou parada olhando o muro. Enfim pôde localizar-se. Andando um pouco mais ao longo de uma sebe, atravessou os portões do Jardim Botânico.
Andava pesadamente pela alameda central, entre os coqueiros. Não havia ninguém no Jardim. Depositou os embrulhos na terra, sentou-se no banco de um atalho e ali ficou muito tempo.
A vastidão parecia acalmá-la, o silêncio regulava sua respiração. Ela adormecia dentro de si.
De longe via a aléia onde a tarde era clara e redonda. Mas a penumbra dos ramos cobria o atalho.
Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores, pequenas surpresas entre os cipós. Todo o Jardim triturado pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.
Um movimento leve e íntimo a sobressaltou — voltou-se rápida. Nada parecia se ter movido. Mas na aléia central estava imóvel um poderoso gato. Seus pêlos eram macios. Em novo andar silencioso, desapareceu.
Inquieta, olhou em torno. Os ramos se balançavam, as sombras vacilavam no chão. Um pardal ciscava na terra. E de repente, com mal-estar, pareceu-lhe ter caído numa emboscada. Fazia-se no Jardim um trabalho secreto do qual ela começava a se aperceber.
Nas árvores as frutas eram pretas, doces como mel. Havia no chão caroços secos cheios de circunvoluções, como pequenos cérebros apodrecidos. O banco estava manchado de sucos roxos. Com suavidade intensa rumorejavam as águas. No tronco da árvore pregavam-se as luxuosas patas de uma aranha. A crueza do mundo era tranqüila. O assassinato era profundo. E a morte não era o que pensávamos.
Ao mesmo tempo que imaginário — era um mundo de se comer com os dentes, um mundo de volumosas sandálias e tulipas. Os troncos eram percorridos por parasitas folhudas, o abraço era macio, colado. Como a repulsa que precedesse uma entrega — era fascinante, a mulher tinha nojo, e era fascinante.
As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno.
Era quase noite agora e tudo parecia cheio, pesado, um esquilo voou na sombra. Sob os pés a terra estava fofa, Ana aspirava-a com delícia. Era fascinante, e ela sentia nojo.
Mas quando se lembrou das crianças, diante das quais se tornara culpada, ergueu-se com uma exclamação de dor. Agarrou o embrulho, avançou pelo atalho obscuro, atingiu a alameda. Quase corria — e via o Jardim em torno de si, com sua impersonalidade soberba. Sacudiu os portões fechados, sacudia-os segurando a madeira áspera. O vigia apareceu espantado de não a ter visto.
Enquanto não chegou à porta do edifício, parecia à beira de um desastre. Correu com a rede até o elevador, sua alma batia-lhe no peito — o que sucedia? A piedade pelo cego era tão violenta como uma ânsia, mas o mundo lhe parecia seu, sujo, perecível, seu. Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava — que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver. O menino que se aproximou correndo era um ser de pernas compridas e rosto igual ao seu, que corria e a abraçava. Apertou-o com força, com espanto. Protegia-se tremula. Porque a vida era periclitante. Ela amava o mundo, amava o que fora criado — amava com nojo. Do mesmo modo como sempre fora fascinada pelas ostras, com aquele vago sentimento de asco que a aproximação da verdade lhe provocava, avisando-a. Abraçou o filho, quase a ponto de machucá-lo. Como se soubesse de um mal — o cego ou o belo Jardim Botânico? — agarrava-se a ele, a quem queria acima de tudo. Fora atingida pelo demônio da fé. A vida é horrível, disse-lhe baixo, faminta. O que faria se seguisse o chamado do cego? Iria sozinha... Havia lugares pobres e ricos que precisavam dela. Ela precisava deles... Tenho medo, disse. Sentia as costelas delicadas da criança entre os braços, ouviu o seu choro assustado. Mamãe, chamou o menino. Afastou-o, olhou aquele rosto, seu coração crispou-se. Não deixe mamãe te esquecer, disse-lhe. A criança mal sentiu o abraço se afrouxar, escapou e correu até a porta do quarto, de onde olhou-a mais segura. Era o pior olhar que jamais recebera. Q sangue subiu-lhe ao rosto, esquentando-o.
Deixou-se cair numa cadeira com os dedos ainda presos na rede. De que tinha vergonha?
Não havia como fugir. Os dias que ela forjara haviam-se rompido na crosta e a água escapava. Estava diante da ostra. E não havia como não olhá-la. De que tinha vergonha? É que já não era mais piedade, não era só piedade: seu coração se enchera com a pior vontade de viver.
Já não sabia se estava do lado do cego ou das espessas plantas. O homem pouco a pouco se distanciara e em tortura ela parecia ter passado para o lados que lhe haviam ferido os olhos. O Jardim Botânico, tranqüilo e alto, lhe revelava. Com horror descobria que pertencia à parte forte do mundo — e que nome se deveria dar a sua misericórdia violenta? Seria obrigada a beijar um leproso, pois nunca seria apenas sua irmã. Um cego me levou ao pior de mim mesma, pensou espantada. Sentia-se banida porque nenhum pobre beberia água nas suas mãos ardentes. Ah! era mais fácil ser um santo que uma pessoa! Por Deus, pois não fora verdadeira a piedade que sondara no seu coração as águas mais profundas? Mas era uma piedade de leão.
Humilhada, sabia que o cego preferiria um amor mais pobre. E, estremecendo, também sabia por quê. A vida do Jardim Botânico chamava-a como um lobisomem é chamado pelo luar. Oh! mas ela amava o cego! pensou com os olhos molhados. No entanto não era com este sentimento que se iria a uma igreja. Estou com medo, disse sozinha na sala. Levantou-se e foi para a cozinha ajudar a empregada a preparar o jantar.
Mas a vida arrepiava-a, como um frio. Ouvia o sino da escola, longe e constante. O pequeno horror da poeira ligando em fios a parte inferior do fogão, onde descobriu a pequena aranha. Carregando a jarra para mudar a água - havia o horror da flor se entregando lânguida e asquerosa às suas mãos. O mesmo trabalho secreto se fazia ali na cozinha. Perto da lata de lixo, esmagou com o pé a formiga. O pequeno assassinato da formiga. O mínimo corpo tremia. As gotas d'água caíam na água parada do tanque. Os besouros de verão. O horror dos besouros inexpressivos. Ao redor havia uma vida silenciosa, lenta, insistente. Horror, horror. Andava de um lado para outro na cozinha, cortando os bifes, mexendo o creme. Em torno da cabeça, em ronda, em torno da luz, os mosquitos de uma noite cálida. Uma noite em que a piedade era tão crua como o amor ruim. Entre os dois seios escorria o suor. A fé a quebrantava, o calor do forno ardia nos seus olhos.
Depois o marido veio, vieram os irmãos e suas mulheres, vieram os filhos dos irmãos.
Jantaram com as janelas todas abertas, no nono andar. Um avião estremecia, ameaçando no calor do céu. Apesar de ter usado poucos ovos, o jantar estava bom. Também suas crianças ficaram acordadas, brincando no tapete com as outras. Era verão, seria inútil obrigá-las a dormir. Ana estava um pouco pálida e ria suavemente com os outros. Depois do jantar, enfim, a primeira brisa mais fresca entrou pelas janelas. Eles rodeavam a mesa, a família. Cansados do dia, felizes em não discordar, tão dispostos a não ver defeitos. Riam-se de tudo, com o coração bom e humano. As crianças cresciam admiravelmente em torno deles. E como a uma borboleta, Ana prendeu o instante entre os dedos antes que ele nunca mais fosse seu.
Depois, quando todos foram embora e as crianças já estavam deitadas, ela era uma mulher bruta que olhava pela janela. A cidade estava adormecida e quente. O que o cego desencadeara caberia nos seus dias? Quantos anos levaria até envelhecer de novo? Qualquer movimento seu e pisaria numa das crianças. Mas com uma maldade de amante, parecia aceitar que da flor saísse o mosquito, que as vitórias-régias boiassem no escuro do lago. O cego pendia entre os frutos do Jardim Botânico.
Se fora um estouro do fogão, o fogo já teria pegado em toda a casa! pensou correndo para a cozinha e deparando com o seu marido diante do café derramado.
— O que foi?! gritou vibrando toda.
Ele se assustou com o medo da mulher. E de repente riu entendendo:
— Não foi nada, disse, sou um desajeitado. Ele parecia cansado, com olheiras.
Mas diante do estranho rosto de Ana, espiou-a com maior atenção. Depois atraiu-a a si, em rápido afago.
— Não quero que lhe aconteça nada, nunca! disse ela.
— Deixe que pelo menos me aconteça o fogão dar um estouro, respondeu ele sorrindo.
Ela continuou sem força nos seus braços. Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.
Acabara-se a vertigem de bondade.
E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.


Texto extraído no livro “Laços de Família”, Editora Rocco – Rio de Janeiro, 1998, pág. 19, incluído entre “Os cem melhores contos brasileiros do século”, Editora Objetiva – Rio de Janeiro, 2000, seleção de Ítalo Moriconi.
ALGUMAS MARAVILHOSAS POESIAS DE ADÉLIA PRADO


CASAMENTO

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.

O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.

ENSINAMENTO

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.

A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:

"Coitado, até essa hora no serviço pesado."
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor. Essa palavra de luxo.


TRADUZIR-SE
Uma parte de mim é todo mundo
Outra parte é ninguém, fundo sem fundo
Uma parte de mim é multidão
Outra parte estranheza e solidão
Uma parte de mim pesa, pondera
Outra parte delira
Uma parte de mim almoça e janta
Outra parte se espanta
Uma parte de mim é permanente
Outra parte se sabe de repente
Uma parte de mim é só vertigem
Outra parte linguagem
Traduzir uma parte na outra parte
Que é uma questão de vida e morte
Será arte ?

IMPRESSIONISTA

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa
como ele mesmo dizia:
constantemente amanhecendo.


O QUE A MUSA ETERNA CANTA
Cessa de uma vez meu vão desejo
de que o poema sirva a todas as fomes.
Um jogador de futebol chegou mesmo a declarar:
"Tenho birra de que me chamem de intelectual,
sou um homem como todos os outros."
Ah, que sabedoria, como todos os outros,
a quem bastou descobrir:
letras eu quero é pra pedir emprego,
agradecer favores,
escrever meu nome completo.
O mais são as mal-traçadas linhas

EXPLICAÇÃO DE POESIA SEM NINGUÉM PEDIR

Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica,
mas atravessa a noite, a madrugada, o dia,
atravessou minha vida,
virou só sentimento.


PRANTO PARA COMOVER JONATHAN
Os diamantes são indestrutíveis?
Mais é meu amor.
O mar é imenso?
Meu amor é maior,
mais belo sem ornamentos
do que um campo de flores.
Mais triste do que a morte,
mais desesperançado
do que a onda batendo no rochedo,
mais tenaz que o rochedo.
Ama e nem sabe mais o que ama.
LAÇOS DE FAMÍLIA - CLARICE LISPECTOR



Laços de Família inclui-se entre os melhores livros de contos de nossa Literatura. São 13 contos centrados, tematicamente, no processo de aprisionamento dos indivíduos através dos "laços de família", de sua prisão doméstica, de seu cotidiano. As formas de vida convencionais e estereotipadas vão-se repetindo de geração, submetendo as consciências e as vontades. A dissecação da classe média carioca resulta numa visão, desencantada e descrente dos liames familiares, dos "laços" de conveniência e interesse que minam a precária união familiar.
Pertencente ao circuito literário nacional dos idos de 1945, Clarice Lispector recebeu influência direta do romance psicológico e do chamado fluxo de consciência presente na literatura irlandesa desde a publicação de Ulisses de James Joyce.
O forte apelo intimista e a miríade de imagens desencadeadas em seus angustiantes textos revelam a própria condição de solidão do homem no mundo.
Há um aspecto a ser levantado nas personagens criadas por ela. Usualmente são moças, velhas, casadas, solteiras, enfim, mulheres e sua realidade social e pessoal deflagradas sob o olhar hipnotizante e martirizador de Clarice.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Poema da prosperidade


Nem a tristeza, nem a desilusão, nem a incerteza,
Nem a solidão, nem o desespero, nem a descrença,
Muito menos o ódio ou alguma ofensa,
NADA ME IMPEDIRÁ DE SONHAR
Em meio às trevas, entre os espinhos, nas tempestades e nos descaminhos,
NADA ME IMPEDIRÁ DE CRER EM DEUS
Mesmo errando e aprendendo, tudo me será favorável,
Tudo me será necessário, para que eu possa evoluir,
Preservar, servir, cantar, agradecer, perdoar, recomeçar...
Quero viver o dia de hoje como se fosse o primeiro,
Como se fosse o último, como se fosse o único.
Quero viver o momento de agora como se ainda fosse cedo
Como se nunca fosse tarde.
Quero manter o meu otimismo, conservar o meu equilíbrio,
Fortalecer a minha esperança, recompor as minhas energias,
Para prosperar na minha missão e viver alegre todos os dias.
Quero caminhar na certeza de chegar,
Quero buscar na certeza de alcançar,
Quero lutar na certeza de vencer,
Quero plantar e esperar
Para poder realizar os idéias do meu ser
Enfim, quero dar o máximo de mim,
Para viver INTENSAMENTE e MARAVILHOSAMENTE TODOS OS DIAS DE MINHA VIDA!
Que eu lembre sempre: QUERER É PODER!
Tudo que eu desejar na vida, certamente alcançarei,
Pois a vida, é este GRANDE MOMENTO DE TODOS NÓS!!


Luizinho Bastos

sábado, 27 de fevereiro de 2010

MENSAGEM
A sabedoria dos Índios Sioux


Conta uma velha lenda dos índios Sioux que, uma vez, Touro Bravo, o mais valente e honrado de todos os jovens guerreiros, e Nuvem Azul, a filha do cacique, uma das mais formosas mulheres da tribo, chegaram de mãos dadas, até a tenda do velho feiticeiro da tribo..
- Nós nos amamos... E vamos nos casar, disse o jovem.E nos amamos tanto que queremos um feitiço, um conselho, ou um talismã.... Alguma coisa que nos garanta que poderemos ficar sempre juntos... Que nos assegure que estaremos um ao lado do outro até encontrarmos a morte. Há algo que possamos fazer ?
E o velho emocionado ao vê-los tão jovens, tão apaixonados e tão ansiosos por uma palavra, disse :
- Tem uma coisa a ser feita, mas é uma tarefa muito difícil e sacrificada... Tu, Nuvem Azul, deves escalar o monte ao norte dessa aldeia, e apenas com uma rede e tuas mãos, deves caçar o falcão mais vigoroso do monte e trazê-lo aqui com vida, até o terceiro dia depois da lua cheia.
- E tu, Touro Bravo, continuou o feiticeiro, deves escalar a montanha do trono, e lá em cima, encontrarás a mais brava de todas as águias, e somente com as tuas mãos e uma rede, deverás apanhá-la trazendo-a para mim, viva !
Os jovens abraçaram-se com ternura, e logo partiram para cumprir a missão recomendada... No dia estabelecido, à frente da tenda do feiticeiro, os dois esperavam com as aves dentro de um saco.
O velho pediu que com cuidado as tirassem dos sacos e viu que eram verdadeiramente formosos exemplares...
- E agora o que faremos?
Perguntou o jovem! As matamos e depois bebemos a honra de seu sangue ?
- Ou cozinhamos e depois comemos o valor da sua carne?
Propôs a jovem.
- Não ! Disse o feiticeiro...
-Apanhem as aves e amarrem-nas entre si pelas patas com essas fitas de couro... Quando tiverem amarradas, soltem-nas, para que voem livres.
O guerreiro e a jovem fizeram o que lhes foi ordenado, e soltaram os pássaros... A águia e o falcão, tentaram voar mas apenas conseguiram saltar pelo terreno. Minutos depois, irritadas pela incapacidade do voo, as aves arremessavam-se entre si, bicando-se até se machucar.
E o velho disse:
- Jamais esqueçam o que estão vendo! Este é o meu conselho.
Vocês são como a águia e o falcão. Se estiverem amarrados um ao outro, ainda que por amor, não só viverão arrastando-se, como também, cedo ou tarde, começarão a machucar-se um ao outro...
Se quiserem que o amor entre vocês perdure...
"Voem Juntos...mas jamais amarrados"
As intenções do texto - Leitor deve ter papel ativo durante leitura


Ao lermos um texto escrito, o sucesso de nossa leitura se dá na medida em que procuramos estabelecer uma interação com o autor. Se considerarmos que o leitor é um agente, que não tem um papel passivo durante o ato de ler, mas que é um sujeito que atribui significado ao texto, que procura as pistas deixadas pelo autor, que busca se aproximar do sentido que este quer dar ao texto, podemos fazer da leitura um lugar onde há reciprocidade.
Em relação aos textos do gênero argumentativo (artigos, editoriais, cartas de reclamação, etc.), textos em que se procura convencer o leitor a aceitar uma opinião ou mesmo adotá-la para si, desvendar as intenções do autor materializadas em argumentos que sustentam uma posição e em evidências que, por sua vez, ancoram os argumentos, significa estar aberto a rever suas próprias opiniões.
Nossas pré-noções
Quando lemos, nem sempre estamos atentos às pistas textuais, aquelas dicas deixadas pelo autor para que nos aproximemos do que este quis nos dizer. Muitas vezes, isso ocorre porque - ao usarmos todo o nosso conhecimento prévio (lingüístico, textual e de mundo) na ação de ler - o sentido que atribuímos ao texto é mediado por nossas pré-noções.
Aquilo que pensamos sobre o assunto em questão, nosso conhecimento do gênero textual e da língua nos conduzem a elaborar algumas hipóteses sobre o texto. No entanto, um leitor cuidadoso e interessado deve rever a pertinência de suas hipóteses ao longo da atividade de leitura e buscar se aproximar da intenção comunicativa.
Alguns elementos do texto podem contribuir muito para que isso seja possível, sobretudo quando se trata da leitura de um texto em inglês ou em outra língua estrangeira. Isso porque como o texto não é escrito na nossa língua e, portanto, não dominamos muito bem as características do contexto sociocultural em que se deu a situação de produção discursiva, encontraremos mais dificuldade em nos aproximarmos de suas intenções. Para esse esforço ser minimizado, vale a pena conhecer como o texto foi elaborado.
A elaboração do texto
O texto objeto de nossa análise é uma resenha de um livro supostamente de interesse de áreas como economia, ciências humanas, meio ambiente e planejamento. Uma leitura rápida dos elementos destacados no texto nos fornece essas informações. Basta ver o rodapé em que essas áreas e o preço do livro são revelados, e o que está escrito entre parênteses.

Why are so many hungry?

A Pelican Original
“If it takes you six hours to read this book, somewhere in the world 2, 500 people will have died of starvation or of hunger-related illness by the time you finish.
Why are so many hungry ? Susan George affirms with conviction, and with solid evidence, that it is not because there are too many passengers on ‘Spaceship Earth’, not because of bad weather or changing climates, but because food is controlled by the rich. Only the poor go hungry.
The multinational agribusiness corporations, Western governments with their food ‘aid’ polices and supposedly neutral multilateral development organizations share responsibility for their fate. They all work in cooperation with local elites, themselves nurtured and protected by the powerful in the developed world. United States agripower paves the way, leads the pack and is gradually imposing its control over the whole planet.
Only those fortunate people who can become consumers will eat in the Brave New World being shaped by the well-fed. The standard liberal solutions to feeding the world -- population control or the Green Revolution -- are just what the hungry poor don’t need. All they need is social change, otherwise known as justice. With that, they could, and would, resolve most of their problems themselves.’
Cover design by John Carrod, photograph by Rod Stone
Economics
Science
Environment and Planning
United Kingdom £ 1,00
Canada $ 2,50
(back cover of How the other half dies by Susan George)

Em geral, as resenhas de livros veiculadas nas capas dos mesmos têm como intenção convencer o leitor de que sua leitura vale a pena. Além disso, procuram apresentar o tema tratado na publicação e o enfoque dado a ele. Assim, apresentam um viés argumentativo muito explícito, tanto no sentido de convencer o leitor a ler o livro como no sentido de promover sua adesão ao enfoque dado ao tema.
A informação trazida entre parênteses e o título da resenha nos sugerem que a resenha aborda o tema da fome. Antes de ler, tente imaginar como esse tema será apresentado no texto e, ao ler, procure checar suas hipóteses.
Para nos aproximarmos das intenções do texto, um dos elementos que merecem destaque é o uso do léxico, mais precisamente a escolha das palavras, dos substantivos, verbos, adjetivos e advérbios.
Ao apresentar a tese da autora sobre as razões que levam as pessoas a morrerem de fome (a comida é controlada pelos ricos), notamos a força expressiva de certos advérbios, tais como many ("hungry") e only ("the poor"). Ainda nesse mesmo parágrafo, é fácil perceber que a opinião da autora é ressaltada por meio do verbo to affirm e do substantivo conviction ("Susan George affirms with conviction"), além do adjetivo solid ("evidence").
Nesse segundo parágrafo, é possível notar que o uso dos conectivos because (sobretudo em "because de food is controlled by the rich") e but garantem, respectivamente, a explicitação do que leva as pessoas à fome e a oposição da tese da autora em relação a outras teses veiculadas sobre o mesmo assunto.
Para refletir e motivar
Antes desse parágrafo, porém, o texto nos oferece um parágrafo introdutório no qual a relação estabelecida entre o tempo médio despendido para a leitura do livro e o número de pessoas que morrem de fome ou em virtude de doenças relativas a ela sugere a reflexão acerca do tema e motiva o interesse pela leitura da resenha e, conseqüentemente, do livro.
No terceiro parágrafo, o texto levanta uma série de evidências que, apesar de generalizantes, dão força à tese defendida e ampliam nosso conhecimento sobre o tema. No caso, vale a pena realizar uma análise do vocabulário utilizado e dos elementos mobilizados pelo texto para ancorar a tese defendida. Tente fazer o movimento que fizemos em relação ao segundo parágrafo e identificar com mais propriedade a intenção comunicativa do texto.

Celina Bruniera é mestre em Sociologia da Educação pela USP e assessora educacional para a área de linguagem.
ENGLISH, AN INTERNATIONAL LANGUAGE

Why learn in English? Because English is the most important international language in the world. Some facts prove that: English is the international language of air and sea travels, of computing, of pop music, of politics, of science and medicine, sports, TV and films. The world today is a very small place. Communication and travel are extremely quick: think of jet planes, satellite TV, telephones, telex and fax for example. Because os this, we need a common language and this language is English.
English is the first language in:
Australia The Bahamas Canada Ireland Guyana New Zealand The United Kingdom The United States
And this is the official second language in many other countries like: India, Nigeria, South Africa, Israel...English is slowly becoming more than one language, because in every country it is spoken there are differences in some vocabulary words, in some grammatical structures.
British English and American English: What is different? Let's see some differences:
AMERICAN ENGLISH                                          BRITISH ENGLISH

apartment                                                                           flat

automobile                                                                         car

cab                                                                                     taxi

candy                                                                               sweet

gas                                                                                    petrol

mail                                                                                      post

elevator                                                                                lift

stove                                                                                  cooker

subway                                                                            underground

vacation                                                                              holiday

DO YOU HAVE A PROBLEM?                        HAVE YOU A PROBLEM?
 
                                             Fonte:Patchwork:English Book 1.2nd grade.Sarah G.Rubin and Mariza Ferrari
HISTORIA DA LÍNGUA INGLESA


A língua inglesa é fruto de uma história complexa e enraizada num passado muito distante.
Há indícios de presença humana nas ilhas britânicas já antes da última era do gelo, quando as mesmas ainda não haviam se separado do continente europeu e antes dos oceanos formarem o Canal da Mancha. Este recente fenômeno geológico que separou as ilhas britânicas do continente, ocorrido há cerca de 7.000 anos, também isolou os povos que lá viviam dos conturbados movimentos e do obscurantismo que caracterizaram os primórdios da Idade Média na Europa.Sítios arqueológicos evidenciam que as terras úmidas que os romanos vieram a denominar de Britannia já abrigavam uma próspera cultura há 8.000 anos, embora pouco se saiba a respeito.
OS CELTAS
A história da Inglaterra inicia com os celtas.
Por volta de 1000 a.C., depois de muitas migrações, vários dialetos das línguas indo-européias tornam-se grupos de línguas distintos, sendo um desses grupos o celta. Os celtas se originaram presumivelmente de populações que já habitavam a Europa na Idade do Bronze. Durante cerca de 8 séculos, de 700 a.C. a 100 A.D., o povo celta habitou as regiões hoje conhecidas como Espanha, França, Alemanha e Inglaterra. O celta chegou a ser o principal grupo de línguas na Europa, antes de acabarem os povos celtas quase que totalmente assimilados pelo Império Romano.
A PRESENÇA ROMANA
Em 55 e 54 a.C. ocorrem as primeiras invasões romanas de reconhecimento, sob o comando pessoal de Júlio César. Em 44 A.D., à época do Imperador Claudius, ocorre a terceira invasão, quando então a principal ilha britânica é anexada ao Império Romano até os limites com a Caledônia (atual Escócia) e o latim começa a exercer influência na cultura celta-bretã. Três séculos e meio de presença das legiões romanas e seus mercadores, trouxeram profunda influência na estrutura econômica, política e social das tribos celtas que habitavam a Grã Bretanha. Palavras latinas naturalmente passaram a ser usadas para muitos dos novos conceitos.
OS ANGLO-SAXÕES
Devido às dificuldades em Roma enfrentadas pelo Império, as legiões romanas, em 410 A.D., se retiram da Britannia, deixando seus habitantes celtas à mercê de inimigos (Scots e Picts). Uma vez que Roma já não dispunha de forças militares para defendê-los, os celtas, em 449 A.D., recorrem às tribos germânicas (Jutes, Angles, Saxons e Frisians) para obter ajuda. Estes, entretanto, de forma oportunista, acabam tornando-se invasores, estabelecendo-se nas áreas mais férteis do sudeste da Grã-Bretanha, destruindo vilas e massacrando a população local. Os celtas-bretões sobreviventes refugiam-se no oeste. Prova da violência e do descaso dos invasores pela cultura local é o fato de que quase não ficaram traços da língua celta no inglês.
São os dialetos germânicos falados pelos anglos e pelos saxões que vão dar origem ao inglês. A palavra England, por exemplo, originou-se de Angle-land (terra dos anglos). A partir daí, a história da língua inglesa é dividida em três períodos: Old English, Middle English e Modern English. A primeira metade do século I, quando ocorreram as invasões germânicas, marca o início do período denominado Old English.
INTRODUÇÃO DO CRISTIANISMO
Em 432 A.D. St. Patrick inicia sua missão de levar o cristianismo à população celta da Irlanda. Em 597 A.D. a Igreja manda missionários liderados por Santo Agostinho para converter os anglo-saxões ao cristianismo. O processo de cristianização ocorre gradual e pacificamente, marcando o início da influência do latim sobre a língua germânica dos anglos-saxões, origem do inglês moderno. Esta influência ocorre de duas formas: introdução de vocabulário novo referente a religião e adaptação do vocabulário anglo-saxão para cobrir novas áreas de significado. A necessidade de reprodução de textos bíblicos representa também o início da literatura inglesa.
A introdução do cristianismo representou também a rejeição de elementos da cultura celta e associação dos mesmos a bruxaria. A observação ainda hoje de Halloween na noite de 31 de outubro é exemplo remanescente de cultura celta na visão do cristianismo.
Àquele período, a Inglaterra encontra-se dividida em sete reinos anglo-saxões e o Old English, então falado, na verdade não era uma única língua, mas sim uma variedade de diferentes dialetos.
Os dialetos do inglês antigo de antes do cristianismo eram línguas funcionais para descrever fatos concretos e atender necessidades de comunicação diária. O vocabulário de origem greco-latina introduzido pela cristianização expandiu a linguagem anglo-saxônica na direção de conceitos abstratos.
Ao final do século 8, iniciam os ataques dos Vikings contra a Inglaterra. Originários da Escandinávia, estes povos usavam de violência e seus ataques causaram destruição em muitas regiões da Europa. Os vikings que se estabeleceram na Inglaterra eram predominantemente provenientes da Dinamarca e falavam dinamarquês. Estes mais de 200 anos de presença de dinamarqueses na Inglaterra naturalmente exerceu influência sobre o Old English. Entretanto, devido à semelhança entre as duas línguas, torna-se difícil determinar esta influência com precisão.
OLD ENGLISH (500 - 1100 A.D.)
Old English, às vezes também também denominado Anglo-Saxon, comparado ao inglês moderno, é uma língua quase irreconhecível, tanto na pronúncia, quanto no vocabulário e na gramática. Para um falante nativo de inglês hoje, das 54 palavras do Pai Nosso em Old English, menos de 15% são reconhecíveis na escrita, e provavelmente nada seria reconhecido ao ser pronunciado.
A correlação entre pronúncia e ortografia, entretanto, era muito mais próxima do que no inglês moderno. No plano gramatical, as diferenças também são substanciais. Em Old English, os substantivos declinam e têm gênero (masculino, feminino e neutro), e os verbos são conjugados.
A CONQUISTA DA INGLATERRA PELOS NORMANDOS NA BATALHA DE HASTINGS
A Batalha de Hastings em 1066, foi um evento histórico de grande importância na história da Inglaterra. Representou não só uma drástica reorganização política, mas também alterou os rumos da língua inglesa, marcando o início de uma nova era.
A batalha foi travada entre o exército normando, comandado por William, Duque da Normandia (norte da França), e o exército anglo-saxão liderado por King Harold, em 14 de outubro de 1066.
O predecessor de Harold havia tido fortes vínculos com a corte da Normandia e supostamente prometido o trono da Inglaterra para o Duque da Normandia. Após sua morte, entretanto, o conselho do reino apontou Harold como sucessor, levando William a apelar para a guerra como forma de impor seus pretensos direitos.
A sangrenta batalha só terminou ao fim do dia, com o Rei Harold e seus irmãos mortos e um saldo de 1500 a 2000 guerreiros mortos do lado normando e outros tantos ou mais, do lado inglês.
William havia conquistado em poucos dias uma vitória que romanos, saxões e dinamarqueses haviam lutado longa e duramente para alcançar. Ele havia conquistado um país de um milhão e meio de habitantes e provavelmente o mais rico da Europa, na época. Por esse feito ficou conhecido na história como William the Conqueror.
O regime que se instaurou a partir da conquista foi caracterizado pela centralização, pela força e, naturalmente, pela língua dos conquistadores: o dialeto francês denominado Norman French. O próprio William l não falava inglês e, por ocasião de sua morte em 1087, não havia uma única região da Inglaterra que não fosse controlada por um normando. Seus sucessores, William II (1087-1100) e Henry I (1100-1135), passaram cerca de metade de seus reinados na França e provavelmente possuíam pouco conhecimento de inglês.
Durante os 300 anos que se seguiram, principalmente nos 150 anos iniciais, a língua usada pela aristocracia na Inglaterra foi o francês. Falar francês tornou-se então condição para aqueles de origem anglo-saxônica em busca de ascensão social através da simpatia e dos favores da classe dominante.
MIDDLE ENGLISH (1100 - 1500)
O elemento mais importante do período que corresponde ao Middle English foi, sem dúvida, a forte presença e influência da língua francesa no inglês. Essa verdadeira transfusão de cultura franco-normanda na nação anglo-saxônica, que durou três séculos, resultou principalmente num aporte considerável de vocabulário. Isto demonstra que, por mais forte que possa ser a influência de uma língua sobre outra, esta influência normalmente não vai além de um enriquecimento de vocabulário, dificilmente afetando a pronúncia ou a estrutura gramatical.
O passar dos séculos e as disputas que acabaram ocorrendo entre os normandos das ilhas britânicas e os do continente, provocam o surgimento de um sentimento nacionalista e, pelo final do século 15, já se torna evidente que o inglês havia prevalecido. Até mesmo como linguagem escrita, o inglês já havia substituído o francês e o latim como língua oficial para documentos. Também começava a surgir uma literatura nacional.
Muito vocabulário novo foi incorporado com a introdução de novos conceitos administrativos, políticos e sociais, para os quais não havia equivalentes em inglês. Em alguns casos, entretanto, já existiam palavras de origem germânica, as quais, ou acabaram desaparecendo, ou passaram a coexistir com os equivalentes de origem francesa, em princípio como sinônimos, mas, com o tempo, adquirindo conotações diferentes.
Pequenas diferenças dialetais resultantes desta simbiose entre diferentes grupos sociais e suas respectivas línguas podem ser observadas ainda atualmente. Nos meios intelectuais das classes mais privilegiadas dos países de língua inglesa existe até hoje uma tendência a um uso maior de palavras de origem latina. De acordo com o norte-americano Pat Brown, freqüentador do fórum de discussões deste site,
The split between the French-speaking Normans and peasant English-speaking Saxons still exists today in a curious fashion. The Normans, as the conquerors and rulers, became the upper-class of England and their speech metamorphosed into today's well-educated English - composed primarily of Latin-based vocabulary. The common everyday speech of most modern English speakers however is still directly based on the Anglo-Saxon.
Além da influência do francês sobre seu vocabulário, o Middle English se caracterizou também pela gradual perda de declinações, pela neutralização e perda de vogais atônicas em final de palavra e pelo início do Great Vowel Shift.
THE GREAT VOWEL SHIFT
Uma acentuada mudança na pronúncia das vogais do inglês ocorreu principalmente durante os séculos 15 e 16. Praticamente todos os sons vogais, inclusive ditongos, sofreram alterações e algumas consoantes deixaram de ser pronunciadas. De uma forma geral, as mudanças das vogais corresponderam a um movimento na direção dos extremos do espectro de vogais.
O sistema de sons vogais da língua inglesa antes do século 15 era bastante semelhante ao das demais línguas da Europa ocidental, inclusive do português de hoje. Portanto, a atual falta de correlação entre ortografia e pronúncia do inglês moderno, que se observa principalmente nas vogais, é, em grande parte, conseqüência desta mudança ocorrida no século 15.
MODERN ENGLISH (a apartir de 1500)
Enquanto que o Middle English se caracterizou por uma acentuada diversidade de dialetos, o Modern English representou um período de padronização e unificação da língua. O advento da imprensa em 1475 e a criação de um sistema postal em 1516 possibilitaram a disseminação do dialeto de Londres - já então o centro político, social e econômico da Inglaterra. A disponibilidade de materiais impressos também deu impulso à educação, trazendo o alfabetismo ao alcance da classe média.
A reprodução e disseminação de uma ortografia finalmente padronizada, entretanto, coincidiu com o período em que ocorria ainda a Great Vowel Shift. As mudanças ocorridas na pronúncia a partir de então, não foram acompanhadas de reformas ortográficas, o que revela um caráter conservador da cultura inglesa. Temos aí a origem da atual falta de correlação entre pronúncia e ortografia no inglês moderno. D’Eugenio assim explica o que ocorreu:
O processo de padronização da língua inglesa iniciou em princípios do século 16 com o advento da litografia, e acabou fixando-se nas presentes formas ao longo do século 18, com a publicação dos dicionários de Samuel Johnson  em 1755, Thomas Sheridan em 1780 e John Walker em 1791. Desde então, a ortografia do inglês mudou em apenas pequenos detalhes, enquanto que a sua pronúncia sofreu grandes transformações. O resultado disto é que hoje em dia temos um sistema ortográfico baseado na língua como ela era falada no século 18, sendo usado para representar a pronúncia da língua no século 20. (319, minha tradução)
Da mesma forma que os primeiros dicionários serviram para padronizar a ortografia, os primeiros trabalhos descrevendo a estrutura gramatical do inglês influenciaram o uso da língua e trouxeram alguma uniformidade gramatical. Durante os séculos 16 e 17 ocorreu o surgimento e a incorporação definitiva do verbo auxiliar do para frases interrogativas e negativas. A partir do século 18 passou a ser considerado incorreto o uso de dupla negação numa mesma frase como, por exemplo: She didn't go neither.
SHAKESPEARE
William Shakespeare (1564-1616), representou uma forte influência no desenvolvimento de uma linguagem literária. Sua imensa obra é caracterizada pelo uso criativo do vocabulário então existente, bem como pela criação de palavras novas. Substantivos transformados em verbos e verbos em adjetivos, bem como a livre adição de prefixos e sufixos e o uso de linguagem figurada são freqüentes nos trabalhos de Shakespeare.
Ao mesmo tempo em que a literatura se desenvolvia, o colonialismo britânico do século 19, levava a língua inglesa a áreas remotas do mundo, proporcionando contato com culturas diferentes e trazendo novo enriquecimento ao vocabulário do inglês.
Desde o início da era cristã até o século 19, seis idiomas chegaram a ser falados na Inglaterra: Celta, Latim, Old English, Norman French, Middle English e Modern English. Essa diversidade de influências explica o fato de ser o inglês uma língua menos sistemática e menos regular, quando comparado às línguas latinas e mesmo ao alemão. Poderia nos levar a concluir também que o inglês de hoje pode ser comparado a uma colcha feita de retalhos de tecidos de origem das mais diversas.
AMERICAN ENGLISH
A esperança de alcançar prosperidade e os anseios por liberdade de religião foram os fatores que determinaram a colonização da América do Norte. A chegada dos primeiros imigrantes ingleses em 1620, marca o início da presença da língua inglesa no Novo Mundo.
À época da independência dos Estados Unidos, em 1776, quando a população do país chegava perto de 4 milhões, o dialeto norte-americano já mostrava características distintas em relação aos dialetos das ilhas britânicas. O contato com a realidade de um novo ambiente, com as culturas indígenas nativas e com o espanhol das regiões adjacentes ao sul, colonizadas pela Espanha, provocou um desenvolvimento de vocabulário diverso do inglês britânico.
Hoje, entretanto, as diferenças entre os dialetos britânicos e norte-americanos estão basicamente na pronúncia, além de pequenas diferenças no vocabulário. Ao contrário do que aconteceu entre Brasil e Portugal, Estados Unidos da América e Inglaterra mantiveram fortes laços culturais, comerciais e políticos. Enquanto que o português ao longo de 4 séculos se desenvolveu em dois dialetos substancialmente diferentes em Portugal e no Brasil, as diferenças entre os dialetos britânico e norte-americano são menos significativas.
O INGLÊS COMO LÍNGUA DO MUNDO
Fatos históricos recentes explicam o atual papel do inglês como língua do mundo.
Em primeiro lugar, temos o grande poderio econômico da Inglaterra nos séculos 18, 19 e 20, alavancado pela Revolução Industrial, e a conseqüente expansão do colonialismo britânico. Este verdadeiro império de influência política e econômica, que atingiu seu ápice na primeira metade do século 20, quando chegou a ficar conhecido como "the empire where the sun never sets" devido à sua vasta abrangência geográfica, provocou uma igualmente vasta disseminação da língua inglesa.
Em segundo lugar, o poderio político-militar do EUA a partir da segunda guerra mundial e a marcante influência econômica e cultural resultante, acabaram por deslocar o francês como língua predominante nos meios diplomáticos e solidificar o inglês na posição de padrão das comunicacões internacionais. Simultaneamente, ocorre um rápido desenvolvimento do transporte aéreo e das tecnologias de telecomunicação. Surgem os conceitos de information superhighway e global village para caracterizar um mundo no qual uma linguagem comum de comunicação é imprescindível.